“Pensar antes de reagir é uma das
ferramentas mais nobres de quem decifra os mais altos níveis do código da
autocrítica. Nos primeiros trinta segundos da tensão, cometemos os maiores
erros de nossa vida, falamos palavras e temos gestos diante das pessoas que
amamos que jamais deveríamos expressar.
Nesse rápido intervalo de tempo,
somos controlados pelas zonas de conflitos que bloqueiam impedindo o acesso de
informações que nos subsidiariam a serenidade, a coerência intelectual, o raciocínio
crítico.
Um intelectual pode dar uma
conferência brilhante e responder a todas as perguntas da plateia com maestria,
mas quando um colega de trabalho faz uma pergunta que o contraria, pode perder
a serenidade da resposta. Reagir sem elegância.
Um médico pode ser muito paciente
com as queixas de seus pacientes, mas muitíssimo impaciente com as reclamações
de seus filhos. Pensa antes de reagir diante de estranhos, mas não diante de
quem ama. Não sabe fazer a oração dos sábios nos focos de tensão, o silêncio.
Só o silêncio preserva a sabedoria quando somos ameaçados, criticados,
injustiçados.
Se vivermos debaixo da ditadura
da resposta, da necessidade compulsiva de reagir quando pressionados,
cometeremos erros, alguns muito graves. Vivemos em uma sociedade barulhenta,
que frequentemente detesta o silêncio. Cada vez mais percebo que as pessoas
estão perdendo o prazer de silenciar, se interiorizar, refletir, meditar.
O dito popular de contar até dez
antes de reagir é imaturo, não funciona. O que estou propondo é o silêncio
filosófico. O silêncio não é se aguentar para não explodir, o silêncio é o
respeito pela própria inteligência. É o respeito pela própria liberdade, a
liberdade de se obrigar a responder em situações estressantes. Quem faz a
oração dos sábios não é escravo do binômio do bateu-levou.
Quem bate no peito e diz que não
leva desaforo para casa, não decifrou o código de pensar nas consequências de
seus atos. Quem se orgulha que vomita para fora tudo o que pensa, machuca quem
mais deveria ser amado. Não decifrou a linguagem do autocontrole.
Não existem relações perfeitas.
Não existem almas gêmeas, que tenham os mesmos gostos, pensamentos e opiniões
iguais o tempo todo, a não ser no cinema. Decepções fazem parte do cardápio das
melhores relações. Nesse cardápio, precisamos do tempero do silêncio para
preparar o molho da tolerância.
Para conviver com máquinas, não
precisamos do silêncio nem da tolerância, mas com seres humanos elas são
fundamentais. Ambas são frutos nobres do código da autocrítica, do código da
capacidade de pensar antes de reagir. Preservam a saúde psíquica, a
consciência, a tranquilidade.
O silêncio e a tolerância são o
vinho dos fortes, a reação impulsiva é a embriaguez dos fracos. O silêncio e a
tolerância são as armas de quem pensa, a reação instintiva é a arma de quem não
pensa. É muito melhor ser lento no pensar do que rápido em machucar.
É preferível conviver com uma
pessoa simples, sem cultura acadêmica, mas tolerante, do que com um ser humano
de ilibada cultura saturada de radicalismo, egocentrismo, estrelismo. Sabedoria
e autocrítica não se aprende nos bancos de uma escola, mas no traçado da
existência.”
(Augusto Cury, “O código da
inteligência e a excelência emocional”, páginas 116 e 117).
Pense nisso!
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