Ela
morava numa casa para idosos na cidade do Rio de Janeiro.
Aos
90 anos, exercitava o idioma inglês que aprendera, sem sotaque. À margem de
livros de poemas, ela ia vertendo os poetas brasileiros para o idioma de
Shakespeare. Era para não esquecer.
Agora,
o que lhe dava realmente prazer era receber uma visita. Quando isto acontecia,
seu ritual era emocionante. Sobre a cama no quarto, ela desenrolava cada um dos
lenços de seda que comprara em suas viagens ao lado do marido (já falecido). Ao
estender cada um deles, ia descrevendo a cidade onde o adquirira. Quem
prestasse atenção conheceria países e continentes sem ter ido lá.
Que
memórias registram? Que sabores guardam? De que cores são? De que tecido foram
feitos?
Os
daquela senhora eram de seda, em muitas cores. Não guardavam amarguras. Eram
lampejos de saudade. Eram testemunhos de gratidão.
Todos
guardamos lenços (sejam fotos, bilhetes, "recuerdos", quadros, papéis
ou lenços mesmo). Podemos desenrola-los sobre a cama, como memórias de alegria
e esperança?
Israel Belo de Azevedo
Pense
nisso...