Obrigada.

sábado, 27 de outubro de 2018

PIPOCAS


Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre!
(Rubem Alves)

Assim acontece com a gente.
As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira.
São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa.
Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor.
Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre.
Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo!
Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si.
Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela.
A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.
Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: BUM!
E ela aparece como outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar.
Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.
A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura.
No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira.
Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva.
Não vão dar alegria para ninguém.

Extraído do livro "O amor que acende a lua" de Rubem Alves


quarta-feira, 24 de outubro de 2018

A IRA


Conhecemos realmente as pessoas quando são contrariadas.
Quando uma brisa toca contra seu corpo, comportam-se como vulcões cujas lavas arrasam os que não conseguem correr.
Talvez digam que estão indignadas. Não é verdade: estão iradas.
Talvez gritem que estão defendendo uma causa legítima. Não é verdade: estão iradas.
A ira é incapaz de construir, porque seu único alvo é a destruição do adversário.
A ira jamais aceita a realidade, se for diferente da sua pretensão.
Uma vez que não visa a paz, a ira nunca tem razão. Ou: nunca deveria ter.
Todos temos que nos avaliar como reagimos à contrariedade, realidade que não temos como evitar. Se a ira for um sentimento que guardamos, ela explodirá; mesmo que nos isolemos numa imaginária ilha, vamos nos irar contra o sol, quando precisarmos de chuva.
Conheçamos as situações que fazem o gatilho da morte disparar a partir da casa do nosso coração.
Contemplemos os males da fúria.
Depois, prestemos atenção ao que nos provoca ao ponto de perdermos o controle de nossas atitudes, como se não pudéssemos esperar.
Se o nosso passado foi marcado pela ira, o nosso futuro pode ser embalado pelo ritmo da paz.
Se aprendemos a nos irar, podemos aprender a nos acalmar.
Se fomos ensinados a agredir, podemos também dar boas vindas ao respeito e ao amor.
Israel Belo de Azevedo

“Fiquem irados e não pequem. Não deixem que o sol se ponha sobre a ira de vocês". (Efésios 4.26)

Pense nisso...